terça-feira, 15 de dezembro de 2009

a cena artística de liubliana



O seguinte texto é resultado das entrevistas conduzidas com alguns dos protagonistas da vibrante cena de arte de Liubliana. A idea surgiu do encontro com Roman Uranjek, membro do grupo Irwin com qual já tinha trabalhado na exposição História reconstruída em Lisboa.
Algumas opiniões correspondem. É evidente que no sistema de arte faltam alguns elementos chave como o mercado de arte desenvolvido e transparente, a reflexão crítica e a educação adequada. No entanto, a grande maioria dos entrevistados acha que a cena artística de Liubliana é apesar do seu tamanho muito dinâmica e com grande visibilidade no contexto internacional.

A inexistência do mercado de arte


O mercado de arte na Eslovénia é subdesenvolvido e intransparente. As razões para isso são variadas e têm a ver com falta de outros elementos no sistema de arte.
Gregor Podnar é galerista que consegiu estabelecer-se rapidamente no contexto internacional. A galeria dele representa os artistas já estabelecidos da Europa de Leste que ainda não tinham a sua propria galeria o que é típico para leste europeu. Inclui os nomes como o grupo Irwin, Attila Csörgo e Vadim Fiskin, como também Tobias Putrih da geração mais nova.
O espaço central da galeria encontra-se em Berlim, enquanto o de Liubliana serve como uma espécie de project room, um espaço mais experimental.
Gregor optou por Berlim porque o mercado na Eslovénia não está desenvolvido e por ser um lugar para onde para além dos artistas recentamente mudaram também alguns coleccionadores internacionais.
Será que há ligação entre a inexistência do mercado de arte e socialismo? “ Não necessáriamente. “ diz Miran Mohar, o membro do grupo Irwin. “ Apesar de um mercado intransparente ser comum no todo o territorio da Europa de Leste a razão para isso não pode ser reduzida ao socialismo. Antes depende de varios factores. “ O Viktor Misiano disse que o problema na Russia é que os melhores artistas trabalham fora das instituições. Também na Eslovénia existe a dichotomia entre a produção artística e a actividade das instituições. O sistema de arte é fechado, o problema reside na política cultural. Uma solução será o estabelecimento das fundações, assim o ministério da cultura já não terá o controle total no financiamento da produção artística. A política deixava de ter a influência directa e será substituída por profissionais da área.
“ A arte na Eslovénia é financiada na grande medida pelo estado. Em relação a isso estamos ainda em transição. “ diz Igor Spanjol, curador da Moderna galerija, a principal instituição de arte contemporânea na Eslovénia. “ Quer dizer que os artistas levam vidas bastante comfortaveis, apesar do mercado ser subdesenvolvido e intransparente. “ Adiciona ainda que os preços das obras dalguns artistas locais como por exemplo os impressionistas cá atingem valores muito mais elevados do que no estrangeiro, o que é uma situação absurda.

A inexistência da reflexão crítica

A reflexão crítica na Eslovénia practicamente não existe. A unica revista dedicada à arte contemporânea editada por Moderna galerija, a Mars, foi cancelada logo depois de alguns números terem saído com successo. A razão disso não é conhecida.
Ao contrário dos outros, a Marina Grzinic, doutora em filosofia, artista e professora de arte na Faculdade de belas artes de Viena, acha a cena artística de Liubliana “ podre” . O território nacional chama “ um buraco burguês neoliberal” .
O que ela propõe é uma plataforma crítica que traz posições que na Eslovénia não existem. A Reartikulacija liga varias àreas do criticismo como a de-colonialidade, delinking, a prática crítica radical e também a cena lesbica à arte contemporânea. O journal bilingue é uma das coisas mais interessantes a acontecer em Liubliana de momento.
Tevz Logar, novo director do Skuc, um espaço not for profit, afirma que na cena não existe espaço para discurso, o que é segundo ele um problema da política cultural, que apoia apenas a produção e não a reflexão.

A educação inadequada

A educação na àrea de arte na Eslovénia não é adequada. Parece que ficou parada no tempo.
“ Os jovens artistas são bastante conservadores, “ diz Igor Spanjol “ conhecem mal a história de arte o que aponta para a incompetência do sitema de educação. “
Miran Mohar, professor na escola de arte visual A.V. A. em Liubliana acha que não há suficiente ênfase na teoria de arte contemporânea e que faltam os professores de fora que por razões birocraticas não têm a oportunidade de trabalhar na Eslovénia(uma das das condições para obter o visto de trabalho é conhecimento da lingua).


Uma cena hermética?

Há artistas e instituições reconhecidos no nivél internacional entre quais Irwin, Marjetica Potrc, Marko Peljhan, Tobias Putrih e Moderna galerija. Enquanto aos artistas, é por iniciativa propria, pois o estado não faz nada em relação a isso. Também a visibilidade duma instituição como a Moderna galerija não ajuda muito para os artistas se tornarem conhecidos lá fora. Ao contrário dum país como a Croacia, falta nós a tradição mais prolongada de vanguardas que na Eslovénia para além do grupo OHO dos anos sessenta e do movimento NSK(Neue Slowenische Kunst) dos anos oitenta não existe.
Alenka Gregoric, a recentamente apontada directora da Mestna galerija, está convencida que a cena artística de Liubliana é apesar do seu tamanho muito diversificada e movimentada. Ela tinha a oportunidade de conhecer as cenas de arte de Istambul, Tel-Avive, Berlim e Nova York que confirmam esta tese.
A cena tem os seus inicios nos anos oitenta com NSK, os anos noventa foram marcados pelos nomes como Vuk Cosic e Marko Peljhan, e agora estão-se a estabelecer jovens, artistas pós-conceptuais.
Igor Spanjol acha que os anos noventa foram mais interessantes do que agora, particularmente a segunda metade dos anos noventa tinha a sua dinâmica muito propria. O Vadim Fiskin chegou do Moscovo, estavam lá também Nika Span e Apolonija Sustersic. No ano 2000 aconteceu ainda a muito criticada Manifesta e à seguir as coisas acalmaram um pouco infelizmente.
Também Tadej Pogacar, director artístico do centro e galeria P74, o unico espaço de artista em Liubliana, acha que a cena foi melhor na segunda metade dos anos noventa, quando ao lado do P74 surgiram a galeria Kapelica, dedicada à performance e body art, Ljudmila(Ljubljana digital art lab) e Bunker.
Roman Uranjek, membro do grupo Irwin, pensa que a cena é apesar do seu tamanho(a Liubliana tem 350 000 habitantes) muito dinâmica. Existem sete espaços onde dá para ver exposições de arte contemporânea: galeria Alkatraz, P74, galeria Skuc, galeria Kapelica, galeria Kapsula, Moderna galerija e Mestna galerija. Na exposição que a Joanna Mytkowska está a comissariar para o Centre Georges Pompidou e inclui cinquenta artistas de quinze países da Europa de Leste, vão estar nada menos que três artistas eslovénos. O galerista eslovéno Gregor Podnar vai estar presente com seis artistas.
Para o reconhecimento internacional da cena foi muito importante a exposição da Moderna galerija Body and the East que tinha mostado que a arte de leste tinha a sua propria identidade e que não é apenas uma má cópia de arte ocidental.
Apesar disso não há profissionais de arte estrangeiros a trabalharem na Eslovénia. Não existe nenhum curador de fora, tampouco um director da instituição de arte.
Para comparação em Austria, o país vizinho, tinham directores das instituições de arte estrangeiros até quando estava no poder o partido nacionalista.


O Futuro

A Moderna galerija estava fechada durante três anos por razões políticas e reabriu em novembro com a exposição do Zoran Music. Muitos dizem que a razão por expor um artista com tão pouco interesse foi outra vez política. A instituição planea para o futuro a divisão dos espaços na arte do século vinte que ocupará o antigo local na rua Tomsiceva e no museu da arte contemporânea que será no antigo complexo militar na Metelkova. A importante parte deste museu é a colecção Arteast 2000+ , que consiste em obras dos artistas da Europa de Leste e se formava durante vinte anos. É ao mesmo tempo a primeira colecção do género no nivél internacional.
O programa da Mestna galerija vai se basear no diálogo com a cidade de Liubliana e a cena internacional e será executado à partir dos convites aos curadores e instituições com quais vão se desenvolver os projectos em conjunto.
Algum espaço será dedicado também aos artistas emergentes dos recentamente formados países da antiga Yugoslavia, àtraves de colaborações com as respectivas instituições que atribuem premios na àrea de arte contemporânea.
No proximo ano o espaço do Skuc vai ser dividido entre a arte local e a presença do espaço internacional, uma das direcções vai também ser a especial atenção aos artistas emergentes. Uma parte importante do programa no futuro será como no caso da Mestna galerija o diálogo com curadores de fora.
A programação do P74 é virada para apresentação, estudo e promoção da arte contemporânea, performance, novos media e musica experimental. Apoio vai aos artistas e curadores emergentes, que têm a oportunidade de realizar as suas primeiras exposições lá. Ao mesmo tempo a juri internacional atribui premios do grupo OHO para jovens artistas.
Anualmente o espaço é dedicado também à exposição do livro do artista e à colaboração com os curadores e instituições do mesmo género de Berlim, Madrid e Viena.
Gregor Podnar encontra-se de momento a lidar com a questão como superar a crise que tem uma grande influência na venda.
A Reartikulacija lança em dezembro o projecto A lei da capital: histórias da opressão no Mestni muzej e leva para Liubliana teóricos e artistas de Viena, Barcelona, Sarajevo, Zagreb, Beograd, Australia e India.
O grupo Irwin acabou o seu último grande projecto East Art Map, a reconstrução da história de arte da Europa de Leste, que tinhamos a oportunidade de ver também em Lisboa. De momento encontram-se a preparar o congresso dos membros do estado NSK que será no proximo ano em Berlim.